segunda-feira, 3 de maio de 2010

Uma e seis da madrugada

Quarta-feira, dia Dez de Fevereiro de Dois mil e Dez. Uma e seis da madrugada. As férias acabaram. Hoje, às Sete e Meia da manhã a vida volta a ser dura, sem sossego, sem os sonhos das dez horas da manhã. Eu que gosto tanto do sossego, do desapego do relógio, do entardecer da lua no pré-sol. Eu me alegro um tanto com o dia, com a liberdade da escolha, de fazer o qu'eu quiser. A hora é só a hora que marcar, sem os ponteiros pra acusar que já é hora de dormir. Meus olhos se recusam a gravar os tempos, a saber dos marcos. Meus ouvidos não desejam ouvir os galos, nem despertar na obrigação. Que dor de despertar. Mas nessa vida, quase tudo é obrigação faz tempo. Você tem que isso, você tem que aquilo. E se eu não quero? Eu pago o meu diploma. Ah é, porque ganhar é que não vou. Todos os meses chega um boleto na caixinha do portão. Queria ver se eu é que mandasse. Ia dizer pr'eles pararem cá exploração. Eles estão vendidos, isso, sim. Se eu não quiser, ninguém me compra. Queria durar a noite inteira dessa vida. Ou será a vida inteira dessa noite? Televisão não dá, não. Hoje cedo tudo volta. A vida vira pressa. E passa, como passa. Daqui uns dias eu tô é amanhã. Pr'eu não cansar meu coração, vou convencer meus olhos a fechar que é hora de acordar jajá. Mas eles quase nunca fecham cedo. Teimam em se aventurar em noite a dentro. Madrugam e viram olhos de coelho. Quem vê pode até pensar que é de fumar. Mas eu não fumo. Melhor eu descansar. A vida vai amanhecer de novo como um dia à trabalhar. Saudades dos meus sonhos de sossego. Que sono eu tenho dessas coisas de obrigar.

[Isabela Pizani - 10/02/10]

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