terça-feira, 4 de maio de 2010

Astronauta

Já era tarde quando ela durmiu os olhos, depois de um dia comum. Desde menina que ela se aventurava pelas madrugadas, sozinha, enquanto todos os outros dormiam. Pela noite, entrava em órbita, visitava planetas e conhecia as estrelas. Constelações de pensamentos habitavam sua mente até que os olhos pesavam e o sol apitava. Ela apagava quando o dia acendia.

Mais tarde, continuava a quase não dormir. Levantava com os olhos vermelhos, ardendo por mais umas horas de sono. Mas, o dia lhe chamava. E ia, sem muito querer, ver o dia passar em passos lentos. Tinha um profundo desejo; ver o relógio picar as horas com pressa.

Um dia, em uma das madrugadas vividas, adormeceu os olhos e, antes que o galo cantasse, despertou n’um pulo, no meio da noite, arregalou a alma e, n’um berro do espírito, expirou. Clamou um grito de misericórdia; "Meu Deus, perdoa-me! Porque fiz, porque sou, porque quis." E fora, de súbito, um despertar, na madrugada, de alívio. Num desespero de vida, sem ser n’um tempo tardio, arrependeu-se dos seus pecados e sucumbiu; na relutância do corpo, entre o sono e seus sussurros, outra vez dormiu.

Pela manhã, arregalou-se sem saber se o que vivera havia sido real. Raiou sentindo como Deus; algumas coisas foram lançadas ao mar do esquecimento. Na madrugada, havia morrido pra morte e parido-se pra vida; nasceu. Soube que Deus descansava os olhos e lhe fizera sentir como Ele sentia. Exclamou: "nada me fizera voar por tantos milênios áté este dia. O perdão nos arrebata à outras galáxias, nos acopla à outra energia. Arrepender-me foi-me a maior das viagens. Deus me transportara em sua nave a um outro planeta. Esvaziou-me da poeira do espaço-pecado e encheu-me com seu amor intergalático, feito um raio que alumiou minha alma."

Por isso havia acordado desse jeito, inebriada. Todo pecado é perdoado se vem de corações arrependidos. E Deus, o autor do universo, de fato, lança fora os pecados ao mar do esquecimento. E de tão profundo, é como se nunca houvessem existido.

Ela exultou-se e salmodiou;

Deus do universo, a quem te compararei ?
És tão maior do que as galáxias e os seus mistérios semelhante ao dos buracos negros, mas infinitamente mais profundos.
Quem poderá te medir? Ninguém poderá. Pois, tua grandeza não cabe no universo inteiro.
A tua glória é infinda e a tua luz brilha mais do que todas as constelações em uníssodo brilhar.
Eu sou como o pó que com um sopro se dissipa e se finda. Os meus dias são como a sombra.
Sem Tí, óh Deus, eu mergulho em trevas, me engasgo no viver. Sou folha verde que seca antes do outono e morre.
Os meus caminhos são tortuoso e minhas veredas são errantes porque me esqueci de Tí, e contra Tí pequei.
Meus ossos envelhereram-se e juntamente a minha alma adoeceu.
Sem tí, sou povo obstinado, de coração impuro e de imundos pensamentos.
Mas o Teu espírito me constrangeu, me atraiu à gravidade de Tua órbita.
Tú, óh Deus, és o meu sol. E eu, sou planeta em devastação.
Mas, as tuas misericórdias se renovaram sobre mim e aqueceram o meu chão, fertilizaram o meu solo, potabilizou a minha água.
A tua graça é meu escudo e o teu amor é como o vácuo; me faz flutuar à merce de Tuas mãos.
O Teu perdão me faz um vento; pelo Teu sopro eu vou, eu vôo, vou ao sul de toda sorte onde o meu norte é o Teu querer.
A Tua Paz me embriagou. A Tua vida me fez livre.
Você me faz caminhar por caminhos de infindas boas descobertas.
O Teu ouvir; a minha prece - Decolo em oração.
O Teu amor; a minha paz - Repouso na estação.
Sua astronauta eu sou.


Isa.

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